“Liberte-se” disse a mim mesma. “Liberte-se”. O toque nas
mãos não foi escondido, os beijos de carinhos também não. Não houve qualquer
descriminação verbal naquele dia. Todavia, olhares surgiram aos montes – o restaurante
estava cheio. Ela estava tensa, não dizia uma palavra – como se a gente tivesse
esse segredo interno: não podemos falar da nossa falta de afeto em público. Ok,
falamos sim, mas ela expressa o medo de ser descriminada, e a conversa não passa
daí.
(quem tem que mudar é
o pensamento mesquinho das pessoas, não o meu envolvimento com a pessoa que tá
comigo!).
Ela me olha, coloco meu sorriso mais cínico e dou um beijo
breve. Se continuarmos assim ninguém nunca vai respeitar quem somos, penso em
dizer, mas fico em silêncio. Medo de ser descriminada, assassinada ou estuprada
pela minha condição sexual é óbvio que tenho... porém não posso agir na
invisibilidade, não posso agir reprimindo meu toque em suas mãos porque há seres humanos que acredita que somos
aberração.
Ela me beija na porta do meu prédio, sinto o gostinho adorável
da sua iniciativa.